Está finalmente concluída, com a abertura do túnel do Marão, a ligação de Matosinhos a Quintanilha, principal fronteira do nordeste transmontano.
A inauguração do túnel, e do último troço de 26 quilómetros
de autoestrada, foi feita pelo primeiro-ministro, António Costa, e pôs fim a um
longo processo iniciado em 1999, por outro governante socialista, António
Guterres. Na altura, a obra foi incluída no Plano Rodoviário Nacional que
consagrava a ligação, por autoestrada, do litoral aos principais postos
fronteiriços. Foi o também socialista José Sócrates quem lançou o concurso para
a construção do último troço da A-4, o mais difícil, porque previa a
necessidade de escavar o granítico Marão em túnel de galeria dupla. As obras
arrancaram finalmente em 2009 mas sofreram várias paragens até serem suspensas
em 2011, poucos dias depois de Passos Coelho ter tomado posse como
primeiro-ministro. Iniciado e concluído durante mandatos socialistas, o túnel
do Marão é o maior túnel rodoviário da Península Ibérica, com uma extensão de
5,7km. Devido às especificidades do solo e ao relevo montanhoso, a obra agora
inaugurada é o lanço autoestrada que necessitou de maior investimento em
Portugal: cada quilómetro custou 14 milhões euros (22 milhões no caso do túnel
propriamente dito).
Sim – foi uma obra cara, mas era uma obra necessária. A sua
conclusão permite atenuar as desigualdades económicas inter-regionais (o PIB per capita do Alto Trás-os-Montes é
cerca de 61 por cento do PIB per capita
do Grande Porto, o que corresponde a cerca de metade da média europeia). Também
ao nível da sinistralidade há benefícios importantes, uma vez que se prevê uma
redução de 26 por cento da taxa de sinistralidade grave (mortos e feridos graves).
Ao nível da mobilidade, há a registar ganhos de tempo médios nas deslocações
entre sedes de concelho da região e uma diminuição do tempo de viagem de quase
20 por cento na ligação Bragança – Matosinhos. Finalmente, mas também
importante, o novo túnel garante a mobilidade mesmo com condições atmosféricas
adversas quando há formação de gelo ou acumulação de neve.
Para lá destes benefícios, e numa visão mais sociológica,
podemos dizer que a abertura do túnel do Marão rasga uma barreira que dividia o
interior e o litoral e quebra o isolamento de Trás-os-Montes num país que se
pretende coeso e solidário.
No caso de Matosinhos, há ainda a referir aspetos
importantes que se vão refletir a curto, médio e longo prazo na economia local
e regional. O nosso concelho fica agora “mais próximo” da província espanhola
de Castela e Leão (a ligação preferencial à Galiza continuará a fazer através
da A-28 e da A-3, naturalmente), facilitando o transporte de mercadorias de e
para o Porto de Leixões que ganha competitividade relativamente à concorrência
de Bilbau e de Vigo.
(Artigo publicado em O Matosinhense, 12.mai.2016
Sem comentários:
Enviar um comentário
Quer comentar? Faça-o! Este espaço é seu, é meu, é nosso.