10 maio 2016

Problema de comunicação


É comum dizer-se, ao ponto de estar cada vez mais generalizado e ser mesmo quase consensual, que a habilidade para comunicar não é o ponto forte de Pedro Passos Coelho. Ele não tem culpa (e os portugueses ainda têm menos), mas o antigo primeiro-ministro mostra uma apetência especial para, como diz o povo, “meter a pata na poça”. Foi o que aconteceu agora quando afirmou que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, “parece representar outros interesses que não são os da comunidade em geral”.

Nem o facto de Passos Coelho ser um mau comunicador retira gravidade às suas palavras. Aliás, em matéria de Educação, o líder do PSD é reincidente: todos ainda nos lembramos de, no exercício das suas funções de primeiro-ministro, ter convidado os professores a irem trabalhar para o estrangeiro. Uma boutade que, tardia-mente, ele tentou transformar naquilo a que chamou de “mito urbano”.

Mas as declarações de Passos Coelho são graves por duas razões: se tem provas de algum comprometimento, privado, em vez de público, do ministro da Educação, então deveria ter a coragem de o acusar formalmente, denunciando-o ao Ministério Público. O que se espera de um homem sério e honesto é que procure que se faça justiça e não que tente retirar dividendos políticos. Por outro lado, se Passos Coelho não tem provas do que insinua, então, manda o decoro (e a seriedade intelectual) que se cale. Um político sério não insinua coisas sobre os seus adversários. Pode combater as suas políticas, mas de forma leal e respeitadora.

Não é preciso ser-se um grande entendedor para perceber que só comunica bem quem for capaz de pensar bem. Se o pensamento se embaralhar, o discurso sai atrapalhado. Talvez seja altura de alguém o dizer ao líder do PSD antes que pensemos que, ele sim, ele é que é um mito urbano.

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