Pela primeira vez em Portugal, o peso das doenças
cardiovasculares na mortalidade desceu abaixo da barreira histórica dos 30 por
cento, confirmando a tendência que se tem verificado ao longo das duas últimas
décadas. Apesar da descida, as doenças cardiovasculares ainda são a principal
causa de morte em Portugal, acima dos tumores malignos e das doenças do
aparelho respiratório, cujos números continuam a subir progressivamente. Dados
arredondados, um em cada três óbitos é causado por doenças cardiovasculares,
sobretudo o acidente vascular cerebral, vulgo AVC, e o enfarte agudo de
miocárdio.
Os números assustam e dão que pensar. Mais do que isso,
obrigam-nos a agir. De acordo com o Programa Nacional para as Doenças
Cérebro-Cardiovasculares, a melhoria global verificada nos últimos anos em todos
os indicadores destas doenças, deve-se à ação combinada das medidas de
prevenção com os avanços na vertente assistencial. No estudo “Portugal –
Doenças Cérebro Cardiovasculares em Números, 2015”, publicado em fevereiro passado,
defende-se que “a continuidade desta evolução implica a manutenção do caráter
prioritário das orientações estratégicas assumidas, numa área que se mantém no
topo das causas de morte no nosso país e em toda a Europa”.
De acordo com aquele relatório, a hipertensão arterial
continua a ser o mais importante fator de risco para as doenças cérebro
cardiovasculares. O estudo adianta que “os custos associados à morbilidade e
mortalidade do seu parcial diagnóstico são um problema em todo o mundo”, o que
explica que a Organização Mundial de Saúde tenha lançado um conjunto de
iniciativas destinadas a sensibilizar a opinião pública e as diferentes
entidades envolvidas neste assunto. Ou seja: são fatores como a educação para a
saúde que assumem importância, sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento
dos sinais de alarme em situações potencialmente ameaçadoras.
Os hábitos alimentares e o consumo de tabaco estão
indelevelmente associados às doenças cardíacas e cardiovasculares. Segundo a
Fundação Portuguesa de Cardiologia, há fatores de risco que não podem ser
modificados (nomeadamente a hereditariedade, o sexo e a idade), mas outros
estão dependentes de medicação ou, mais simplesmente, de alterações de estilo
de vida. O sedentarismo, a hipertensão, o tabagismo, o stresse e a obesidade,
entre outros, são fatores cujo rastreio e diagnóstico médico são fundamentais
para avaliar o risco que se corre de vir a ter uma doença cardiovascular.
Neste, como noutros casos, quanto mais cedo aqueles fatores de risco forem identificados
maiores são as probabilidades de impedir o aparecimento ou o agravamento de
doenças cardiovasculares. Por isso, entre as medidas preventivas a adotar, é
importante a realização de um exame médico regular (pelo menos anual),
sobretudo se houver antecedentes familiares. Não fumar nem consumir outro tipo
de drogas, seguir uma alimentação saudável e variada (menos gorduras, açúcar e
sal; mais vegetais, peixe e hidratos de carbono), beber água regularmente e
praticar uma atividade física orientada, são medidas simples que contribuem
para prevenir a doença. Controlar o peso, evitar o stresse e monitorizar a
pressão arterial e o colesterol é igualmente fundamental.
Todo este conjunto de comportamentos está ao alcance de
todos e depende exclusivamente de cada um. É caso para adaptarmos a célebre
frase de John Kennedy: não nos perguntemos o que o Estado pode fazer pela nossa
saúde, perguntemo-nos o que nós próprios podemos fazer por ela. Assumir,
individual e coletivamente uma atitude responsável nesta matéria significa
melhorar a nossa qualidade de vida e contribuir decisivamente para baixar o
peso dos AVC e do enfarte de miocárdio na taxa de mortalidade.
(Artigo publicado no jornal Público, 25.mai.2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Quer comentar? Faça-o! Este espaço é seu, é meu, é nosso.