Perto de seis mil
pessoas reuniram-se entre 14 e 19 de maio em Copenhaga no maior encontro mundial
sobre raparigas e mulheres. Na sua quarta edição, a Women Deliver debruçou-se sobre
direitos e bem-estar naquela que foi a mais importante reunião internacional da
última década. Entre os presentes estavam duas mil organizações em
representação de 150 países (chefes de estado, primeiros-ministros e
parlamentares) cujos trabalhos foram seguidos por centenas de jornalistas de
todo o Mundo. Na conferência, representei Portugal em nome do Grupo Parlamentar
sobre População e Desenvolvimento.
A principal conclusão
da Women Deliver é a de colocar na agenda política mundial a questão da
igualdade de género. Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
estabelecido pela ONU é precisamente alcançar a igualdade de género e empoderar
todas as mulheres e meninas, acabando com todas as formas de discriminação
contra elas. Até 2030, devem ser eliminadas todas as formas de violência contra
mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e
exploração sexual e eliminadas também todas as práticas nocivas, como os
casamentos prematuros, forçados e de crianças e a mutilação genital feminina.
De acordo com as
Nações Unidas, é necessário reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e garantir
a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para
a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, económica
e pública. É necessário assegurar o acesso universal à saúde sexual e
reprodutiva e os direitos reprodutivos e realizar reformas para dar às mulheres
direitos iguais aos recursos económicos, bem como o acesso a propriedade e
controle sobre a terra e outras formas de propriedade e serviços financeiros.
Finalmente, a ONU tem como objetivo adotar e fortalecer políticas sólidas e
legislação aplicável para a promoção da igualdade de género e o empoderamento
de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.
A Women Deliver apoia
e reforça estes objetivos de desenvolvimento sustentável. Melinda Gates,
copresidente da Bill & Melinda Foundation, anunciou em Copenhaga um
investimento de 80 milhões de dólares US nos próximos três anos para a recolha
e tratamento de dados sobre a Mulher. A conferencista defende que são
necessários dados mais confiáveis sobre a vida das mulheres, como o tempo gasto
em trabalho não remunerado, por exemplo, para acelerar os progressos,
contribuindo para a informação que desenvolverá mais políticas e programas para
a Mulher. O financiamento vai ajudar a preencher lacunas de dados de género
críticos, melhorar a precisão e confiabilidade da recolha de dados e dar aos decisores
mais informação. Ao mesmo tempo apoia os esforços da sociedade civil para
responsabilizar os líderes pelos seus compromissos.
Melinda Gates
acrescentou que “é ótimo que as mulheres e meninas sejam o cerne dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável, mas não há dados suficientes para construir uma
linha de base para quase 80 por cento dos sub-indicadores desses objetivos.
Ainda a propósito da igualdade
entre mulheres e homens, o McKinsey Global Institute (MGI) defendeu que reduzir
a lacuna de género pode desencadear o crescimento maciço, justificando que os
benefícios económicos da redução das disparidades superam em muito o gasto social
adicional necessário. Aquela instituição aponta a educação, o planeamento
familiar, a saúde materna, a inclusão financeira, a inclusão digital e
assistência ao trabalho não-remunerado como áreas onde a melhoria de acesso aos
serviços pode desbloquear oportunidades para as mulheres.
Em resumo, e como
defendeu a presidente da Women Deliver, Katja Iversen, no seu discurso de
encerramento, investir na igualdade de género – e na saúde das meninas e
mulheres – é investir no progresso humano. Os direitos humanos das meninas e
mulheres são a chave do Desenvolvimento sustentável.
(Artigo publicado no Diário de Notícias, 03.jun.2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Quer comentar? Faça-o! Este espaço é seu, é meu, é nosso.