Não há uma data única para assinalar o Dia Mundial da
Criança. A ONU aponta o dia 20 de novembro para a comemoração, por ser nesta
data que foi aprovada, em 1959, a Declaração Universal dos Direitos da Criança
e que foi adotada, em 1989, a Convenção dos Direitos da Criança. Mas já antes
dessas datas o Dia Internacional da Criança era festejado no nosso país. Em
Portugal, a efeméride assinalou-se pela primeira vez a 1 de junho 1950 por
iniciativa das Nações Unidas, com o objetivo de chamar a atenção para os
problemas que as crianças então enfrentavam. Neste dia, os Estados-Membros
reconheceram que todas as crianças têm direito a afeto, amor e compreensão,
alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas
as formas de exploração e a crescer num clima de paz e de fraternidade. E isso independentemente
da raça, cor, religião, origem social ou país de origem.
Desde meados do século passado, muito foi feito em defesa
dos direitos das crianças. E resta ainda muito por e para fazer. Veja-se, por
exemplo, a questão do trabalho infantil. Trata-se de um fenómeno outrora muito
enraizado em Portugal e que foi progressivamente desaparecendo (ainda que não
totalmente) fruto da legislação que foi adotada e da mudança de comportamento
ditada pela tomada de consciência dos direitos das crianças.
Mas para se ter uma perceção global da dimensão do problema,
basta ler o documento “Dados do Relatório Mundial sobre Trabalho Infantil
2015”, elaborado pela OIT. Segundo dados da organização, há 168 milhões de
crianças que realizam trabalho infantil em todo o mundo. Entre elas, 120
milhões tem idades entre cinco e 14 anos e cerca de cinco milhões vivem em
condições muito próximas da escravatura. (Voltarei a este tema no dia 12, quando
se celebrar o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil).
O trabalho infantil é apenas uma forma de infligir maus
tratos a crianças. O problema dos raptos e dos desaparecimentos de menores é
igualmente preocupante. Na Europa, uma criança é dada como desaparecida a cada
dois minutos. No ano passado, foram recebidos cerca de 210 mil telefonemas
pelas 29 linhas de apoio existentes na UE. De acordo com dados do Instituto de
Apoio à Criança, mais de metade das chamadas corresponde a casos de fugas, enquanto
cerca de 30 por cento refere-se a crianças raptadas por um dos progenitores, na
sequência de conflitos familiares.
No caso das crianças desaparecidas, um dos maiores dramas
atualmente é o das crianças migrantes não acompanhadas. Em janeiro, a Interpol revelou
que pelo menos dez mil crianças desacompanhadas tinham desaparecido, depois de
chegarem à Europa. Segundo a presidente do Conselho Português dos Refugiados,
Teresa Tito de Morais, trata-se de jovens indefesos que desaparecem por serem
postos ao serviço das redes de tráfico, mas também porque perdem o rasto das
suas famílias e não sabem onde as localizar. Em Portugal, segundo o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras, entre 2013 e 2015 houve 60 crianças não acompanhadas
que entraram no país com um pedido de asilo e que acabaram por desaparecer.
Um dos mais importantes direitos das crianças é o direito ao
afeto, da família e da sociedade em geral. Ao nível da família, recordo que
nesta legislatura a Assembleia da República aprovou, por larga maioria e com o
apoio do Partido Socialista, o diploma que passa a permitir a adoção por casais
do mesmo sexo, que vem promover o bem-estar da criança.
Ao nível da Educação, o Governo do PS garantiu a
gratuitidade dos manuais escolares para os alunos do primeiro ano (e o
congelamento do preço dos restantes, com o acordo dos editores livreiros). A medida,
que é inédita em Portugal, inscreve-se simultaneamente no apoio às famílias e no
cumprimento da Constituição da República que consagra o direito ao ensino
tendencialmente gratuito.
Reforço a ideia: já muito foi feito, muito há ainda por e
para fazer, até porque as crianças são o grupo etário em maior risco de pobreza
em Portugal. Segundo a UNICEF, a situação agravou-se com a adoção de medidas de
austeridade, que tiveram impacto direto no bem-estar das crianças ao nível da
saúde, da educação e dos apoios sociais às famílias, especialmente às mais
carenciadas. No relatório “As Crianças e a Crise em Portugal”, publicado em
2013, o Comité Português para a UNICEF adianta que “o risco de pobreza é mais
elevado em famílias com filhos, nomeadamente, em famílias numerosas (41,2 por
cento) e em famílias monoparentais (31 por cento).
Nesse sentido é fundamental que as crianças estejam no
centro das preocupações políticas e sociais. Por isso entendo que Governo,
instituições e sociedade civil devem continuar a a trabalhar para reforçar a
tomada de consciência coletiva de que as crianças de hoje são os adultos de
amanhã. Quanto melhores condições lhes dermos, melhor será, também, o mundo de
amanhã.
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