Os Estados Unidos anunciaram no início desta semana a
decisão de cortar o financiamento ao Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA) que ao longo dos anos tem desenvolvido um trabalho fundamental na
promoção do planeamento familiar. A ação da UNFPA faz-se sentir em mais de
centena e meia de países que representam cerca de 80 por cento da população
mundial e tem permitido salvar milhares de vidas de raparigas e jovens mulheres
durante a gravidez ou o parto, tal como milhares de bebés.
O corte de 32,5 milhões de dólares anunciado pela
administração Trump não é uma surpresa para quem tem acompanhado as intenções
do presidente norte-americano. Mas as consequências são de tal forma dramáticas
e hipotecam de tal maneira o trabalho da UNFPA que a decisão vai custar a vida
a muitas mulheres, que, sem o apoio da agência das Nações Unidas, dificilmente
escaparão a uma morte que a partir de agora está como que anunciada – e é quase
certa.
Enquanto deputada e membro do Grupo Parlamentar Português para
a População e o Desenvolvimento, que trabalha com o UNFPA, não posso deixar de
condenar a decisão norte-americana e dei o meu apoio a uma mensagem de
solidariedade enviada aos responsáveis da agência. Entretanto, na próxima quarta-feira,
o Grupo Parlamentar vai reunir e poderá tomar outras medidas de condenação e
repúdio face ao corte de financiamento.
Com esta decisão, Trump coloca em causa os próprios
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU. Sem meios, como
poderemos assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e
reprodutiva? E recordo que também foi definido como meta reduzir a taxa de
mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nados-vivos e
acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco
anos. Deixar de financiar o trabalho do UNFPA é fechar os olhos a esta
realidade e hipotecar estas metas.
Não, não nos podemos calar face a uma decisão como esta. Uma
morte é sempre qualquer coisa de dramático – sobretudo quando ela é evitável.
Talvez ainda estejamos a tempo de inverter esta decisão e manter e quiçá
reforçar todos os programas do UNFPA em matéria de saúde materna, sexual e
reprodutiva. No fundo, essa é uma responsabilidade de todos os membros da ONU,
uma responsabilidade a que os Estados Unidos, enquanto maior economia do Mundo,
não podem furtar-se.
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