07 abril 2017

A Administração Trump e o os cortes cegos


Os Estados Unidos anunciaram no início desta semana a decisão de cortar o financiamento ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) que ao longo dos anos tem desenvolvido um trabalho fundamental na promoção do planeamento familiar. A ação da UNFPA faz-se sentir em mais de centena e meia de países que representam cerca de 80 por cento da população mundial e tem permitido salvar milhares de vidas de raparigas e jovens mulheres durante a gravidez ou o parto, tal como milhares de bebés.

O corte de 32,5 milhões de dólares anunciado pela administração Trump não é uma surpresa para quem tem acompanhado as intenções do presidente norte-americano. Mas as consequências são de tal forma dramáticas e hipotecam de tal maneira o trabalho da UNFPA que a decisão vai custar a vida a muitas mulheres, que, sem o apoio da agência das Nações Unidas, dificilmente escaparão a uma morte que a partir de agora está como que anunciada – e é quase certa.

Enquanto deputada e membro do Grupo Parlamentar Português para a População e o Desenvolvimento, que trabalha com o UNFPA, não posso deixar de condenar a decisão norte-americana e dei o meu apoio a uma mensagem de solidariedade enviada aos responsáveis da agência. Entretanto, na próxima quarta-feira, o Grupo Parlamentar vai reunir e poderá tomar outras medidas de condenação e repúdio face ao corte de financiamento.

Com esta decisão, Trump coloca em causa os próprios Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU. Sem meios, como poderemos assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva? E recordo que também foi definido como meta reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nados-vivos e acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos. Deixar de financiar o trabalho do UNFPA é fechar os olhos a esta realidade e hipotecar estas metas.

Não, não nos podemos calar face a uma decisão como esta. Uma morte é sempre qualquer coisa de dramático – sobretudo quando ela é evitável. Talvez ainda estejamos a tempo de inverter esta decisão e manter e quiçá reforçar todos os programas do UNFPA em matéria de saúde materna, sexual e reprodutiva. No fundo, essa é uma responsabilidade de todos os membros da ONU, uma responsabilidade a que os Estados Unidos, enquanto maior economia do Mundo, não podem furtar-se.

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