Às 16h00 de domingo passado, um dos dias mais quentes do
ano, havia quatro mil bombeiros a combater incêndios em Portugal. De acordo com
a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), estavam mobilizados também
meios aéreos e terrestres, tendo sido registados 250 fogos de dimensão diversa.
Todos os anos é a mesma coisa. Quando chega o Verão e o
mercúrio sobe nos termómetros, o número de ocorrências multiplica-se e vemos o
país esfumar-se aos poucos. Na última semana viveram-se dias particularmente
difíceis, o que obrigou a ANPC a lançar o alerta laranja, o segundo mais alto,
o que já não acontecia há quatro anos.
Regra geral, os incêndios começam por três tipos de razões:
ignição espontânea, quando os elementos da natureza se conjugam, por ação
criminosa ou ainda por negligência humana. Qualquer que seja a origem, há um
pressuposto para que os fogos ganhem dimensão e se tornem, por vezes,
incontroláveis: a existência de vegetação, normalmente mato.
A prevenção é a única forma de combater os incêndios de
causas naturais: a limpeza regular das matas deve ser uma prioridade tanto para
os proprietários dos terrenos como para as autarquias (câmaras municipais e
juntas de freguesia). Existe aliás legislação nesse sentido que nem sempre é
respeitada, por desconhecimento e negligência por parte da população e por falta
de vigilância das autoridades.
A limpeza das matas reduziria também, drasticamente, se não
o número pelo menos a dimensão de muitos fogos de origem criminosa. Como muitas
pessoas, também eu penso que muitos dos incêndios são ateados intencionalmente.
Para esses casos, sou de opinião que as autoridades devem estar dotadas de
todas as condições para procederem às investigações, identificar os
responsáveis e entregá-los à Justiça que os deve julgar e, se for cado disso,
condenar sem contemplações.
Na maioria dos casos, no entanto, é a negligência que está
na base dos incêndios. As queimadas não vigiadas ou feitas a horas impróprias,
a beata de cigarro atirada pela janela fora ou as brasas abandonadas depois de
um churrasco, são apenas três exemplos de comportamentos que urge modificar.
Permito-me mesmo recordar as declarações da ministra da Administração
Interna, há cerca de um mês. Falando do risco de incêndio que o país enfrenta devido
às condições meteorológicas, Constança Urbano de Sousa afirmou que “a prevenção
começa pelos comportamentos dos cidadãos, que devem evitar comportamentos de
riscos. A proteção civil começa em cada um de nós, e Portugal sem fogos depende
de cada cidadão”. É bom, acrescento eu, que todos tenhamos consciência da
responsabilidade que temos na prevenção e não hesitemos um desempenhar esse
papel.
Por outro lado, e numa perspetiva a médio e longo prazo é
necessário que o Portugal adote uma política florestal que tenha também em
vista as condições climatéricas que normalmente se fazem sentir no país. O
estabelecimento dessa política florestal é dificultado pela existência de
muitos terrenos abandonados cujos proprietários são desconhecidos e pela
existência de muitos minifúndios.
Mas devemos reconhecer que a nossa floresta,
sobretudo composta por pinheiro bravo e eucalipto, de combustão rápida, deveria
ser gradualmente substituída por outras espécies, nomeadamente sobreiros, carvalhos,
medronheiros, castanheiros, loureiros e azinheiras, por exemplo, que são
árvores autóctones. Além de outras vantagens, estas espécies estão mais
adaptadas às condições do solo e do clima do nosso país, em comparação com o
pinheiro ou o eucalipto.
Claro que não é fácil mudar tudo de imediato, porque implica
acabar com hábitos de centenas de anos de tradição no plantio de pinhal e, mais
recentemente, de eucaliptal, com o impacto negativo que isso implicaria para a
indústria da celulose, por exemplo, que é importante para a economia. Mas o
aumento da área se sobreiros e de outras espécies teria também um impacto
positivo nas contas do país, além do impacto ambiental que deve igualmente ser
calculado e quantificado.
(Artigo publicado no jornal "O Matosinhense", de 11.ago.2016)
(Artigo publicado no jornal "O Matosinhense", de 11.ago.2016)
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