O Dia Mundial da Hepatite, comemorado a 28 de julho e a que
o Público deu larga cobertura, foi escolhido para a entrega, na Assembleia da
Republica, de um projeto de resolução em que se recomenda ao Governo o reforço
das medidas de eliminação das Hepatites Virais. Os dados da Organização Mundial
de Saúde impressionam: 400 milhões de pessoas infetadas e mais seis a dez
milhões de novos casos por ano; 95% das pessoas com Hepatite não sabe que está doente,
mas mais de 90% das que têm Hepatite C podem ser curadas. Um número
significativo desenvolverá cirroses hepáticas ou cancro do fígado; anualmente
morrem cerca de 700.000 pessoas com doenças do fígado relacionadas com a
Hepatite C. Em maio, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a primeira
"Estratégia do Sector de Saúde Global sobre Hepatites Virais,
2016-2021". O documento aponta para a eliminação da doença, assumindo
metas globais a atingir até 2030: redução de novas infeções em 90% e redução de
mortes em 65%.
O movimento mundial pela eliminação da Hepatite também foi
lançado a 28 de julho. O NOhep pretende “fornecer uma plataforma para assegurar
que os compromissos globais sejam alcançados e a Hepatite Viral seja eliminada
até 2030.” Na Europa, o Manifesto de apoio à supressão da Hepatite C defende
que esse deve ser um objetivo explícito das políticas de saúde e quer assegurar
o envolvimento dos doentes e da sociedade civil na implementação das
estratégias de eliminação da doença. Também é preconizada uma atenção
particular às ligações entre a doença e a marginalização social e recomenda-se
a criação de uma Semana de Sensibilização Europeia para realizar iniciativas
educacionais em toda a Europa.
Em Portugal, a preocupação também é grande. Em 2014 foi
publicado o “Consenso estratégico para a gestão integrada da Hepatite C em
Portugal” e soube-se que a prevalência do anticorpo contra a Hepatite C
situa-se entre 1 e 1,5% da população. Podem morrer em Portugal entre 900 a 1200
pessoas por ano por complicações relacionadas com a doença. “É urgente fazermos
mais na prevenção da Hepatite C”, concluía o documento, até porque tudo indica haver
uma prevalência muito alta nos grupos de risco. Segundo o Serviço de
Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, a comorbilidade de
Hepatite C e VIH em toxicodependentes é elevada. Dentro das prisões, 72% dos
infetados pelo VIH eram também positivos para a Hepatite C.
No nosso país, os dados mais recentes apontam para 8 136
tratamentos iniciados, 3 234 doentes curados e 128 doentes não curados. É bom,
mas a guerra contra a Hepatite C não pode acabar aqui.
Dos 13 mil doentes que
no início de 2015 tinham sido identificados, cerca de 40% ainda não iniciaram o
tratamento. Haverá um número muito significativo de infetados que não está
diagnosticado. E há muito trabalho a fazer no campo da prevenção.
No projeto apresentado na Assembleia da República, de que
sou a primeira signatária, defendo que Portugal precisa de um programa
integrado e sistemático de eliminação da Hepatite C em linha com as melhores
recomendações internacionais. Por isso se recomenda que o Programa de Saúde
Prioritário na área das Hepatites Virais seja dotado dos meios humanos e
financeiros suficientes.
Devemos estabelecer um programa para a eliminação da doença,
privilegiando a prevenção, o rastreio, o diagnóstico, o tratamento adequado e a
monitorização. As associações de doentes têm de ser envolvidas e deve
reforçar-se o papel importante da Medicina Geral e Familiar no rastreio das
Hepatites Virais e na ligação aos cuidados primários de saúde. E é necessário investir
na formação dos profissionais de saúde na área das Hepatites Virais.
Referindo-se à Hepatite C, o ex-presidente da República,
Jorge Sampaio, escreveu que “as emergências não esperam”. Por isso, o combate
tem de começar já.
(Artigo publicado no jornal "Público", 13.ago.2016)
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