13 maio 2016

Há luz ao fundo no túnel


Está finalmente concluída, com a abertura do túnel do Marão, a ligação de Matosinhos a Quintanilha, principal fronteira do nordeste transmontano.

A inauguração do túnel, e do último troço de 26 quilómetros de autoestrada, foi feita pelo primeiro-ministro, António Costa, e pôs fim a um longo processo iniciado em 1999, por outro governante socialista, António Guterres. Na altura, a obra foi incluída no Plano Rodoviário Nacional que consagrava a ligação, por autoestrada, do litoral aos principais postos fronteiriços. Foi o também socialista José Sócrates quem lançou o concurso para a construção do último troço da A-4, o mais difícil, porque previa a necessidade de escavar o granítico Marão em túnel de galeria dupla. As obras arrancaram finalmente em 2009 mas sofreram várias paragens até serem suspensas em 2011, poucos dias depois de Passos Coelho ter tomado posse como primeiro-ministro. Iniciado e concluído durante mandatos socialistas, o túnel do Marão é o maior túnel rodoviário da Península Ibérica, com uma extensão de 5,7km. Devido às especificidades do solo e ao relevo montanhoso, a obra agora inaugurada é o lanço autoestrada que necessitou de maior investimento em Portugal: cada quilómetro custou 14 milhões euros (22 milhões no caso do túnel propriamente dito).

Sim – foi uma obra cara, mas era uma obra necessária. A sua conclusão permite atenuar as desigualdades económicas inter-regionais (o PIB per capita do Alto Trás-os-Montes é cerca de 61 por cento do PIB per capita do Grande Porto, o que corresponde a cerca de metade da média europeia). Também ao nível da sinistralidade há benefícios importantes, uma vez que se prevê uma redução de 26 por cento da taxa de sinistralidade grave (mortos e feridos graves). Ao nível da mobilidade, há a registar ganhos de tempo médios nas deslocações entre sedes de concelho da região e uma diminuição do tempo de viagem de quase 20 por cento na ligação Bragança – Matosinhos. Finalmente, mas também importante, o novo túnel garante a mobilidade mesmo com condições atmosféricas adversas quando há formação de gelo ou acumulação de neve.

Para lá destes benefícios, e numa visão mais sociológica, podemos dizer que a abertura do túnel do Marão rasga uma barreira que dividia o interior e o litoral e quebra o isolamento de Trás-os-Montes num país que se pretende coeso e solidário.

No caso de Matosinhos, há ainda a referir aspetos importantes que se vão refletir a curto, médio e longo prazo na economia local e regional. O nosso concelho fica agora “mais próximo” da província espanhola de Castela e Leão (a ligação preferencial à Galiza continuará a fazer através da A-28 e da A-3, naturalmente), facilitando o transporte de mercadorias de e para o Porto de Leixões que ganha competitividade relativamente à concorrência de Bilbau e de Vigo.

Para além das mercadorias, o túnel do Marão aproxima também as pessoas, que agora podem viajar evitando as curvas e os enjoos. Matosinhos fica à distância de 230 quilómetros (e 7,85 euros de portagens) da fronteira e os cidadãos de Castela e Leão têm agora um acesso privilegiado às nossas praias e à nossa gastronomia, o que deverá valer a redefinição (ou, pelo menos, o reforço) da política em matéria de Turismo. Captar visitantes daquela província espanhola deve passar a ser uma prioridade para a Turismo Porto e Norte, para as nossas Autarquias e, em última análise, para os nossos empresários.

(Artigo publicado em O Matosinhense, 12.mai.2016

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