09 março 2017

Igualdade salarial e as calendas gregas

Quase se pode dizer que fica para as calendas gregas. Não é bem assim, mas a igualdade salarial entre mulheres e homens só deverá acontecer dentro de 170 anos, lá para 2187. É o que prevê um estudo divulgado há dias pelo Fórum Económico Mundial que todos os anos analisa fatores como educação, saúde e sobrevivência, oportunidades económicas e participação política. Os dados agora revelados representam um retrocesso relativamente ao ano passado quando se previa que o fosso salarial que separa homens e mulheres deixaria de existir dentro de “apenas” 118 anos.

A diferença é abissal e merece reflexão. Fazendo fé no estudo, em média as mulheres ganham pouco mais de metade do que os homens – apesar de trabalharem mais horas. De acordo com um outro estudo, da Comissão Europeia (2014), a disparidade reflete três tipos de desvantagens para as mulheres: auferem uma remuneração inferior à hora; têm menos horas de trabalho em atividades remuneradas; e têm taxas de emprego inferiores, por exemplo, quando interrompem a carreira para se dedicarem aos filhos ou a familiares. A Comissão Europeia acrescenta que “os homens que trabalham despendem em média nove horas por semana na prestação de cuidados não remunerados e na realização de tarefas domésticas, enquanto as mulheres que trabalham dedicam 26 horas ao mesmo, ou seja, praticamente quatro horas diárias”.

A situação é ainda mais grave quando se sabe que em 95 países do Mundo as mulheres são tão ou mais escolarizadas do que os homens. Ou seja: não é por terem menos qualificações que as mulheres são pior remuneradas. A situação deve-se a questões culturais ou de tradição embora em muito países, como é caso de toda a União Europeia, a discriminação sexual seja proibida.

Na verdade, seria vantajoso para a economia e a para a sociedade em geral que houvesse maior igualdade entre a retribuição de homens e de mulheres. É a própria Comissão Europeia que diz que “a eliminação das disparidades salariais com base no sexo pode ajudar a reduzir os níveis de pobreza e a aumentar os rendimentos das mulheres ao longo da vida. Assim se evita que as mulheres caiam na pobreza apesar de profissionalmente ativas e que vivam a reforma na pobreza.” Pois: é que se as mulheres recebem menos durante a sua vida ativa, também descontam menos, ficando depois com reformas mais baixas…

É importante manter viva a questão da igualdade e da eliminação das disparidades salariais entre géneros de forma a contribuir para o crescimento do emprego, para a competitividade e para a recuperação económica. Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, no passado dia 8, decidi chamar a atenção para este tema que deverá preocupar toda a sociedade e não apenas o sexo feminino. É necessário um esforço de todos, mulheres e homens, para que a igualdade salarial não fique mesmo para as calendas gregas.

(Artigo publicado no jornal "O Matosinhense", de 09.mar.2017)


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