Quase se pode dizer que fica para as calendas gregas. Não é
bem assim, mas a igualdade salarial entre mulheres e homens só deverá acontecer
dentro de 170 anos, lá para 2187. É o que prevê um estudo divulgado há dias
pelo Fórum Económico Mundial que todos os anos analisa fatores como educação,
saúde e sobrevivência, oportunidades económicas e participação política. Os
dados agora revelados representam um retrocesso relativamente ao ano passado
quando se previa que o fosso salarial que separa homens e mulheres deixaria de
existir dentro de “apenas” 118 anos.
A diferença é abissal e merece reflexão. Fazendo fé no
estudo, em média as mulheres ganham pouco mais de metade do que os homens –
apesar de trabalharem mais horas. De acordo com um outro estudo, da Comissão
Europeia (2014), a disparidade reflete três tipos de desvantagens para as
mulheres: auferem uma remuneração inferior à hora; têm menos horas de trabalho
em atividades remuneradas; e têm taxas de emprego inferiores, por exemplo,
quando interrompem a carreira para se dedicarem aos filhos ou a familiares. A Comissão
Europeia acrescenta que “os homens que trabalham despendem em média nove horas
por semana na prestação de cuidados não remunerados e na realização de tarefas
domésticas, enquanto as mulheres que trabalham dedicam 26 horas ao mesmo, ou
seja, praticamente quatro horas diárias”.
A situação é ainda mais grave quando se sabe que em 95
países do Mundo as mulheres são tão ou mais escolarizadas do que os homens. Ou
seja: não é por terem menos qualificações que as mulheres são pior remuneradas.
A situação deve-se a questões culturais ou de tradição embora em muito países,
como é caso de toda a União Europeia, a discriminação sexual seja proibida.
Na verdade, seria vantajoso para a economia e a para a
sociedade em geral que houvesse maior igualdade entre a retribuição de homens e
de mulheres. É a própria Comissão Europeia que diz que “a eliminação das
disparidades salariais com base no sexo pode ajudar a reduzir os níveis de
pobreza e a aumentar os rendimentos das mulheres ao longo da vida. Assim se
evita que as mulheres caiam na pobreza apesar de profissionalmente ativas e que
vivam a reforma na pobreza.” Pois: é que se as mulheres recebem menos durante a
sua vida ativa, também descontam menos, ficando depois com reformas mais baixas…
É importante manter viva a questão da igualdade e da
eliminação das disparidades salariais entre géneros de forma a contribuir para
o crescimento do emprego, para a competitividade e para a recuperação
económica. Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, no
passado dia 8, decidi chamar a atenção para este tema que deverá preocupar toda
a sociedade e não apenas o sexo feminino. É necessário um esforço de todos,
mulheres e homens, para que a igualdade salarial não fique mesmo para as
calendas gregas.
(Artigo publicado no jornal "O Matosinhense", de 09.mar.2017)
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