Não era novidade, mas a manchete do "Público" de 1 de março
alimentou a questão. A notícia de que o Governo quer duas mulheres no Conselho
de Administração do Banco de Portugal provocou as mais diversas reações
sobretudo plasmadas através das redes sociais. Entre aqueles que se
manifestavam a favor da opção do Governo e outros que se lhe opunham,
assistiu-se, como se tornou comum no Facebook, a troca de argumentos mais ou
menos civilizados mas com um denominador comum: poucas – ou mesmo nenhumas –
propostas concretas para contrariar o facto, tão indesmentível como preocupante
– de atualmente apenas uma mulher fazer parte do C.A. do Banco de Portugal.
A realidade no BdP não é, infelizmente, diferente da que se
vive na esmagadora maioria das grandes empresas. Nas 46 cotadas em bolsa,
apenas uma, a Galp Energia, é presidida por uma mulher. De resto, treze das
empresas têm apenas homens – e, sublinho, nenhuma mulher – nos seus conselhos
de administração. A verdade é que as mulheres representam apenas 12,41 por
cento dos conselhos de administração. Estes números dão força à vontade do
Governo de estabelecer políticas que promovam a igualdade de género no setor
público e nas empresas cotadas em bolsa. É incontestável que a autorregulação
falhou e que as mulheres continuam sub-representadas nos órgãos de
administração. Resta a imposição de quotas que, noutras áreas, tem dado
resultados muito interessantes.
Veja-se, por exemplo, o caso da política. Nas últimas
eleições legislativas foram eleitas 76 mulheres, o que representa cerca de um
terço dos 230 deputados. Basta pensarmos que nas primeiras eleições para a
Assembleia da República, em 1976, foram eleitas 15, num universo de 263
deputados, para chegamos à conclusão de que o caminho da afirmação da Mulher no
mundo da política tem estado a ser percorrido com segurança, é certo, mas,
também, com uma considerável lentidão.
Essa afirmação não teria sido possível sem a Lei da
Paridade, que o Partido Socialista fez aprovar em 2006 e segundo a qual cada um
dos sexos deve ter uma representação mínima de 33,3 por cento nas listas de
candidatos. Mas se os mínimos foram atingidos nas eleições legislativas, que
dizer das Autárquicas? Também aqui o número de mulheres autarcas tem evoluído
positivamente mas, nas últimas eleições, foram eleitas apenas 23 mulheres para
a presidência de câmaras, mais de metade das quais do PS. A norte, por exemplo,
no conjunto dos distritos de Porto, Braga, Viana do Castelo e Vila Real, há
apenas um concelho que tem uma mulher como presidente da Câmara: é Elisa Ferraz
(PS), em Vila do Conde. É claramente muito pouco e uma situação que tem de ser
revista.
Na política, no mundo do trabalho ou em qualquer área que
seja, não há motivo que justifique que as mulheres não tenham as mesmas
oportunidades que os homens. Não podemos, mulheres e homens, deixar que estes
desequilíbrios continuem a minar a nossa sociedade. As qualificações das
mulheres não podem continuar a ser desperdiçadas. No caso das grandes empresas,
se a autorregulação falhou, devemos avançar imediatamente para a imposição de regras
e mecanismos que obriguem as instituições a mudar o seu funcionamento e a terem
uma maior abertura à participação das mulheres.
(Artigo no jornal "Público", de 12.mar.2017)
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