O que é que ainda não foi dito sobre Mário Soares? Pelos 92
anos de uma vida cheia, vivida com um entusiasmo transbordante e uma dedicação
plena à causa pública, o ex-presidente da República foi alvo de um permanente
escrutínio por parte de todos: da comunicação social, dos seus adversários
políticos, dos seus camaradas de armas e compagnons
de route, enfim, Mário Soares não deixava ninguém indiferente – e todos
sobre ele temos opinião formada e expressa.
Mário Soares é o pai da Democracia portuguesa, pela qual
lutou, foi preso, deportado e exilado. Muito antes de ter sido
primeiro-ministro e presidente da República, já tinha uma “folha de serviço” só
ao alcance de alguém incomum. “Republicano, socialista e laico”, como se
autodefiniu, envolveu-se muito novo no combate contra o Estado Novo. Com 25
anos, já formado em Direito, assumiu a defesa de muitos presos políticos e
participou em diversos julgamentos. Integrou as comissões de apoio às
candidaturas presidenciais de Norton de Matos, em 1949, e de Humberto Delgado,
em 1958. Foi preso em doze ocasiões e deportado sem julgamento para a ilha de
São Tomé, em 1968, dois anos antes de lhe ser permitido o exílio, em França. Em
1973 é um dos principais impulsionadores do encontro de Bad Münstereifel, na
Alemanha, em que se deu a fundação do Partido Socialista.
Enquanto Secretário-geral do Partido Socialista, Mário
Soares fica na história do partido. Não apenas por ter sido o primeiro a
desempenhar a função, mas também pela influência que sempre teve como
denominador comum a todos os socialistas e nossa principal referência ao longo
dos tempos. Europeísta convicto, pertence a uma geração de políticos da estirpe
de François Mitterrand, Olof Palme, Felipe González ou Willy Brandt, que
construíram, com base nos valores do socialismo democrático, a Europa pela qual
temos de continuar a lutar.
É imenso e praticamente inesgotável o legado de Mário
Soares. É a figura mais marcante da sociedade portuguesa desde o último quartel
do século XX, protagonista maior da Revolução de Abril, do processo de
transição para a Democracia, da descolonização, da entrada de Portugal na então
CEE. Dele, sublinho o inconformismo e a luta sem tréguas pela Democracia e pela
justiça social que nos deve inspirar a todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Quer comentar? Faça-o! Este espaço é seu, é meu, é nosso.