Esta semana, Matosinhos viu partir um dos seus filhos mais
ilustres. Guilherme Pinto, que presidiu à Câmara Municipal durante os últimos
onze anos, e, antes disso, tinha sido vereador, deixou-nos com a calma
serenidade que só os grandes alcançam. Escassos dois dias antes de falecer, em
entrevista à TSF, dizia que tinha tido “uma vida boa, sem nada para pôr no
livro de reclamações”.
A tranquilidade com que encarou os últimos dias, certamente
cansado pelo seu último e mais importante combate pessoal, contrastava com a
permanente agitação com que sempre encarou a sua vida. Conheci Guilherme Pinto em
1994, quando entrei para o Conselho Consultivo da Juventude e ainda antes de
com ele conviver também como vereadora municipal. Era já um homem profundamente
empenhado em fazer mais e em fazer melhor por Matosinhos. Nisso, era
insaciável, transbordante de uma energia que parecia inesgotável num permanente
borbulhar de ideias.
Durante aqueles anos de vereação, Guilherme Pinto revelou-se
também um agitador de opiniões ao suscitar debates em que refletíamos sobre os
problemas do concelho. Dessas discussões saíram muitas vezes ideias criativas
que permitiram soluções simples e eficientes. Excelente orador, poderia ter ido
para Lisboa como deputado, mas Matosinhos foi sempre a sua paixão: aqui nasceu
e aqui deixou uma obra marcante que vai além dos seus onze anos de presidente
de câmara.
Em 2013, pela primeira vez desde que nos conhecemos e que
eramos amigos, fizemos escolhas distintas que nos fizeram divergir. Tal como eu
esperava, mostrou-se determinado na sua luta, mas sempre leal. No entanto, mesmo
em campos diferentes, Guilherme Pinto manteve-se fiel aos valores socialistas e
deu um contributo inestimável para que o PS vencesse as Legislativas de 2015 e
envolveu-se também nas Presidenciais. De tal forma que o seu regresso ao seu
partido de sempre era apenas uma mera formalidade, felizmente cumprida
atempadamente. No fundo, nunca devia ter saído.
Com o desaparecimento de Guilherme Pinto, Matosinhos e a
região veem sair de cena um dos seus maiores protagonistas, um homem que deixa
uma marca indelével no concelho em múltiplas áreas que vão da Educação ao
Desporto, da Cultura à coesão social, da captação de investimento à habitação,
da reabilitação urbana ao ambiente. O concelho perde uma referência importante
da sua história mais recente e eu, do ponto de vista pessoal, perco um amigo e
um conselheiro, um farol e uma fonte de inspiração.
O funeral de Guilherme Pinto foi a maior manifestação de pesar
e luto coletivo jamais vista na cidade. A multidão que esteve na Igreja do Bom
Jesus de Matosinhos para a missa de corpo presente (com milhares de pessoas a
não poderem entrar numa igreja já a abarrotar), significa que muita gente sente
o mesmo que eu. Vou sentir muito a falta de Guilherme Pinto. Creio que a melhor
forma de o homenagearmos, de honrarmos a sua memória e de perpetuarmos o seu
nome é inspirarmo-nos no seu amor por Matosinhos. Um amor que se manifestava na
coragem e determinação que Guilherme Pinto colocou em cada combate que travou
pelo desenvolvimento da sua terra.
(Artigo publicado no "Jornal de Matosinhos", de 13.jan.2017)
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