15 janeiro 2017

Obrigada, Guilherme

Esta semana, Matosinhos viu partir um dos seus filhos mais ilustres. Guilherme Pinto, que presidiu à Câmara Municipal durante os últimos onze anos, e, antes disso, tinha sido vereador, deixou-nos com a calma serenidade que só os grandes alcançam. Escassos dois dias antes de falecer, em entrevista à TSF, dizia que tinha tido “uma vida boa, sem nada para pôr no livro de reclamações”.

A tranquilidade com que encarou os últimos dias, certamente cansado pelo seu último e mais importante combate pessoal, contrastava com a permanente agitação com que sempre encarou a sua vida. Conheci Guilherme Pinto em 1994, quando entrei para o Conselho Consultivo da Juventude e ainda antes de com ele conviver também como vereadora municipal. Era já um homem profundamente empenhado em fazer mais e em fazer melhor por Matosinhos. Nisso, era insaciável, transbordante de uma energia que parecia inesgotável num permanente borbulhar de ideias.

Durante aqueles anos de vereação, Guilherme Pinto revelou-se também um agitador de opiniões ao suscitar debates em que refletíamos sobre os problemas do concelho. Dessas discussões saíram muitas vezes ideias criativas que permitiram soluções simples e eficientes. Excelente orador, poderia ter ido para Lisboa como deputado, mas Matosinhos foi sempre a sua paixão: aqui nasceu e aqui deixou uma obra marcante que vai além dos seus onze anos de presidente de câmara.

Em 2013, pela primeira vez desde que nos conhecemos e que eramos amigos, fizemos escolhas distintas que nos fizeram divergir. Tal como eu esperava, mostrou-se determinado na sua luta, mas sempre leal. No entanto, mesmo em campos diferentes, Guilherme Pinto manteve-se fiel aos valores socialistas e deu um contributo inestimável para que o PS vencesse as Legislativas de 2015 e envolveu-se também nas Presidenciais. De tal forma que o seu regresso ao seu partido de sempre era apenas uma mera formalidade, felizmente cumprida atempadamente. No fundo, nunca devia ter saído.

Com o desaparecimento de Guilherme Pinto, Matosinhos e a região veem sair de cena um dos seus maiores protagonistas, um homem que deixa uma marca indelével no concelho em múltiplas áreas que vão da Educação ao Desporto, da Cultura à coesão social, da captação de investimento à habitação, da reabilitação urbana ao ambiente. O concelho perde uma referência importante da sua história mais recente e eu, do ponto de vista pessoal, perco um amigo e um conselheiro, um farol e uma fonte de inspiração.

O funeral de Guilherme Pinto foi a maior manifestação de pesar e luto coletivo jamais vista na cidade. A multidão que esteve na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos para a missa de corpo presente (com milhares de pessoas a não poderem entrar numa igreja já a abarrotar), significa que muita gente sente o mesmo que eu. Vou sentir muito a falta de Guilherme Pinto. Creio que a melhor forma de o homenagearmos, de honrarmos a sua memória e de perpetuarmos o seu nome é inspirarmo-nos no seu amor por Matosinhos. Um amor que se manifestava na coragem e determinação que Guilherme Pinto colocou em cada combate que travou pelo desenvolvimento da sua terra.

(Artigo publicado no "Jornal de Matosinhos", de 13.jan.2017)


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