03 julho 2016

A condecoração a Salgueiro Maia


Um dia antes de, se fosse vivo, completar 72 anos, foi – finalmente – reparada uma injusta de muitos anos e o presidente da República condecorou Fernando Salgueiro Maia. A uma das figuras mais importantes da Revolução dos Cravos foi atribuída a Grã-Cruz da Ordem do Infante.

Salgueiro Maia faleceu em 1992, vítima de doença oncológica. Para a História fica como o principal operacional do 25 de Abril. Na madrugada desse dia, dirigindo-se às tropas da Escola Prática, em Santarém, diz: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”

As palavras foram, conta-se, proferidas de forma serena, mas firme. Todos os 240 homens de que dispunha deram um passo em frente, sinal de acompanhariam o Capitão. O 25 de Abril estava em marcha para acabar com a ditadura mais antiga da Europa. Foram as tropas de Salgueiro Maia que ocuparam o Terreiro do Paço e foi ele quem, horas mais tarde, comandou o cerco ao Quartel do Carmo que terminou com a rendição de Marcelo Caetano. Sem derramamento de sangue.

Salgueiro Maia foi membro ativo da Assembleia do MFA, durante os governos provisórios, mas não aceitou qualquer cargo político no pós-25 de abril. Ao longo dos anos, recusou ser membro do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil do Distrito de Santarém ou pertencer à casa Militar da Presidência da República. Em vez disso, licenciou-se em Ciências Políticas e Sociais, primeiro, e em Ciências Antropológicas e Etnológicas.

Que Marcelo Rebelo de Sousa tenha decidido agraciar o maior exemplo de coragem da revolução de 25 de Abril de 1974 é a reparação de uma injustiça que a memória de Salgueiro Maia estava longe de merecer.

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