Quem me lê habitualmente sabe que este, assumidamente, não é
um blogue desportivo. Mas a exaltação patriótica que se tem vivido nos últimos
dias, motivada pelos excelentes resultados alcançados por atletas portugueses
em várias modalidades, merece bem que eu volte a falar de Desporto neste
espaço.
Também eu vivi com grande emoção as conquistas da Seleção de
Futebol, dos nossos representantes nos Campeonatos Europeus de Atletismo (seis
medalhas, três das quais de ouro, a colocarem Portugal no sétimo lugar do
“medalheiro” à frente de potências como França e Itália, por exemplo), do Rui
Costa, segundo classificado numa dificílima etapa da Volta a França em
bicicleta. Os resultados obtidos pelos portugueses têm justificado o empolgamento
com que os temos vivido: para um pequeno país como o nosso, com apenas onze
milhões de habitantes e que tem passado por tantas provações, temos amplos
motivos para festejar.
Somos um país que não desiste. As adversidades têm sido
muitas, mas, a exemplo do que aconteceu estes dias no Desporto, Portugal
resiste e ultrapassa os obstáculos. Mais: fazêmo-lo de cabeça erguida, com a
coragem e determinação com que outrora demos novos mundos ao Mundo.
Sim, eu sei: temos problemas mais importantes para resolver do
que um campeonato da Europa, seja em que modalidade for. A ameaça de sanções injustas
continua aí, a criação de emprego não é tão rápida como gostaríamos, é preciso
acelerar a execução dos fundos europeus, que dará mais competitividade às
empresas. É necessário continuar a trabalhar para devolver a dignidade às
pessoas e melhor ainda mais o acesso à Saúde, à Educação e à Justiça. Mas uns
dias de festejos não hipotecam a resolução destes problemas, nem sequer a
adiam. Um povo que luta pelo seu futuro merece a euforia que está a viver. E se
puser, como tem posto, o mesmo empenho nessa luta que os atletas portugueses
puseram nas competições em que participaram, então teremos mais motivos para
festejar. Essa é a primeira nota que queria aqui deixar.
A segunda tem a ver com algo que é cada vez mais evidente:
Portugal é um país uno e indivisível, com a riqueza de uma população
diversificada. No Desporto a questão nem sequer é nova: já tivemos o Francis
Obikwuelo, cuja nacionalidade ninguém questionou. Atente-se nos 23 selecionados
para o Euro 2016: Cédric Soares nasceu na Alemanha; Pepe, no Brasil; Anthony
Silva, Raphael Guerreiro e Adrien Silva, em França; William Carvalho, em
Angola; Danilo Pereira e Éder, o marcador do golo que nos fez vibrar, nasceram
ambos na Guiné-Bissau. Renato Sanches e Nani têm ascendência africana, Bruno
Alves é filho de brasileiro.
São menos portugueses por isso? Claro que não, cantaram o
hino, suaram a camisola, bateram-se por Portugal. Encontramos a mesma
diversidade na equipa de Atletismo que disputou os Campeonatos da modalidade em
Amesterdão, com atletas de origem africana e búlgara, nomeadamente.
As linhas que delimitam os países, regiões, cidades, vilas
ou aldeias são cada vez mais ténues, sem prejuízo da identidade dos povos. Os
portugueses da diáspora viveram com a mesma intensidade, ou mais ainda se isso
fosse possível, os feitos dos atletas portugueses. Nem o facto de terem
emigrado e viverem noutros países, nalguns casos há dezenas de anos, faz com
que se sintam menos portugueses. E não há aqui nada de nacionalismo – antes de
patriotismo.
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