29 julho 2016

Portugal a dar cartas


O mês de julho, que agora termina, trouxe a Portugal um conjunto de resultados desportivos verdadeiramente extraordinário. A seleção nacional de Futebol ganhou, em França e contra a equipa da casa, o Campeonato da Europa, conquista inédita e que o nosso país há muito procurava – o melhor que tinha conseguido era chegar à final, perdida contra a Grécia, em Lisboa, no “nosso Europeu”.

O Futebol é um desporto de multidões, o mais universal de todos os deportos. Basta recordar que o organismo que rege a modalidade em termos mundiais, a FIFA, tem mais países associados (são 210) do que a própria Organização das Nações Unidas, que conta apenas 193 estados-membros…

Compreende-se a euforia com a vitória no Campeonato da Europa. O Futebol não é tudo na vida. Nem é sequer o mais importante. Mas são incalculáveis para Portugal as consequências deste título, o mais importante da história do desporto português. É verdade que já fomos campeões mundiais, em várias modalidades, tivemos campeões olímpicos, mas nenhum feito, antes deste, terá tido mais impacto social, político e económico do que sermos campeões da Europa de Futebol.

A curto, médio ou longo prazo não faltará quem apresente dados estatísticos sobre os efeitos que ser campeão da Europa teve para Portugal. Para já, todavia, o que me interessa salientar é o impacto desta vitória para a autoestima dos portugueses. Ao longo dos tempos, e sobretudo no decurso dos últimos quatro anos, foi pedido aos portugueses que fizessem sacrifícios enormes para reparar os pecados de que eramos acusados e que se resumiam a viver acima das nossas possibilidades. As acusações e os sacrifícios que nos fora exigidos, levaram-nos a duvidar das nossas capacidades e a baixar o nível do nosso amor-próprio. Além de tudo o mais, importante e quantificável, o campeonato da Europa de Futebol teve esse forte impacto na nossa sociedade: o de elevar os índices de confiança do nosso povo.

Mesmo se o Futebol foi determinante para esse aumento do nosso orgulho patriótico, há outros motivos de satisfação. No mesmo dia em que Portugal se sagrou Campeão Europeu do pontapé na bola, Rui Costa foi segundo na etapa da Volta a França em bicicleta. O ciclista da Póvoa de Varzim não conseguiu este ano vencer qualquer etapa do Tour, mas foi dos grandes animadores do pelotão, tentando várias fugas e elevando sempre o nome de Portugal.

No Atletismo, os Campeonatos Europeus disputados em Amesterdão, deram seis medalhas a Portugal (três de ouro, uma de prata e duas de bronze). O total valeu ao nosso país o sétimo lugar no “medalheiro” à frente de potências desportivas como França ou Itália. Sara Moreira (na Maratona) e Patrícia Mamona (no Triplo Salto) lideraram a representação portuguesa que teve em Tsanko Arnaudov, Jéssica Augusto e Dulce Félix fiéis seguidores.

Alguns dias depois do clímax vivido com a vitória no Futebol e as medalhas no Atletismo, começou, em Oliveira de Azeméis, o Campeonato Europeu de Hóquei em Patins, título que fugia no nosso país desde 1998. Pois bem: na final, frente a uma Itália que era a campeã em título, Portugal começou a perder mas deu a volta ao resultado na segunda parte e marcou seis golos que deram a vitória à seleção.

No Desporto Adaptado, a “nossa” Elsa Taborda, da APPACM Matosinhos, contribuiu com três medalhas (duas de prata e uma de bronze) para o total das 22 conquistadas por Portugal, só no Atletismo, na primeira edição do Trisome Games, disputados em Florença, na Itália. A atleta matosinhense deu uma ajuda preciosa para que o nosso país se sagrasse vice-campeão do Mundo de Atletismo Síndrome de Down, atrás da África do Sul.

E enfim, poderíamos também contabilizar aqui honrosas participações de atletas portugueses noutras modalidades desportivas e em competições internacionais. Se, a todos estes resultados, acrescentarmos os sucessos de Portugal e dos portugueses em campos como a Medicina, a Ciência, a Tecnologia, a Arquitetura (com o nosso Terminal de Cruzeiros a ganhar o prémio internacional "AZAwards", entre 826 projetos de mais de 50 países), então temos mais do que razões para acreditar que estamos entre os melhores também noutras áreas.

E, desculpem a imodéstia, faz bem ao ego saber que Portugal está a dar cartas em muitos setores de atividade.

(Artigo publicado no jornal "O Matosinhense", 28.jul.2016)


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