Cumpre-se um ano após o falecimento de Maria Barroso,
ocorrido a 7 de julho de 2015 em consequência de uma queda, em casa, ocorrida
dias antes. Maria de Jesus Simões Barroso Soares foi atriz, ativista política e
social e professora. Foi primeira-dama entre 1986 e 1996. E foi,
acima de tudo, alguém que se insurgiu contra as desigualdades e as injustiças, combatendo-as
ao longo de toda a sua vida. Nesse aspeto, todos temos um pouco de Maria
Barroso – mas poucos têm tanto. Dificilmente alguém terá mais.
Maria sempre teve um olhar sereno sobre uma vida agitada que
durou 90 anos. Ainda muito nova viu o pai ser deportado para os Açores, em
1927, por conspirar contra o regime que tinha imposto uma feroz ditadura
militar. Depois da escola primária, no Algarve, veio para Lisboa. Diplomou-se
em Arte Dramática e licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde conheceu Mário Soares.
Casaram-se por procuração quando ele se encontrava preso por motivos políticos.
“Eu estava muito dentro do clima político. Quem ia a nossa
casa eram os nossos amigos que estavam implicados na mesma luta a favor da
democracia e da liberdade, com o desejo de que os direitos humanos fossem
respeitados”, disse. Maria Barroso não era afeta ao regime e demonstrava-o
publicamente. Isso valeu-lhe a demissão do Teatro Nacional e a proibição, pela
PIDE, de dar aulas. Não a deixou lecionar, mas deixou que dirigisse o Colégio
Moderno, fundado pelo sogro. Paradoxalmente.
A sua intervenção política é feita em ações de caráter
cultural, em que declama poesia escolhida por si. Em 1969 é candidata a
deputada pela Oposição Democrática. Em 1973, no Congresso de Aveiro, é a única
mulher a discursar na sessão de abertura. Meses depois é também a única mulher
presente na fundação do Partido Socialista, na Alemanha, onde vota em sentido
contrário ao do marido. Na sua opinião aquele não era o momento para fundar um
partido político que, de qualquer forma, seria obrigado a lutar na
clandestinidade.
Após o 25 de Abril foi eleita deputada por quatro vezes e,
enquanto primeira-dama, distinguiu-se pelo seu empenho na defesa do sentido de
família, intervindo nos países de língua portuguesa. Fundou o movimento
Emergência Moçambique e a escritura da Associação para o Estudo e Prevenção da
Violência. Presidiu à abertura do ciclo de realizações do Ano Internacional de
Luta contra o racismo, a xenofobia, o antissemitismo e a exclusão social.
Em 1997, depois de deixar o Palácio de Belém, foi presidente
da Cruz Vermelha Portuguesa, cargo que exerceu até 2003. Foi também
sócia-fundadora e presidente do Conselho de Administração da ONGD e da Fundação
Aristides de Sousa Mendes.
Viveu com serenidade uma vida agitada. Não há recordação de
alguma vez precisar de ter gritado para se fazer ouvir. Não há memória de se
ter posto em bicos de pés para erguer a voz em defesa dos mais vulneráveis e,
sobretudo, das mulheres. “Estamos a ajudar a melhorar a sociedade em que
vivemos, porque não é uma sociedade perfeita com certeza. Não há nenhuma que
seja perfeita. Mas é possível torná-la ainda melhor”.
Um ano após o falecimento de Maria Barroso, a maior
homenagem que (todos) podemos fazer-lhe é curvar-nos perante a sua memória.
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