Após uma longa polémica sobre o destino a dar aos quadros de
Joan Miró, foi finalmente encontrada uma solução: as obras ficam na Casa de
Serralves, no Porto, o que reforça a posição da Invicta como polo cultural. A
cidade, e toda a região, ganham assim um novo motor de crescimento que ajuda a consolidar
o lugar, atribuído pelo site de viagens
TripAdvisor, de um dos melhores destinos emergentes do mundo (e o melhor da
Europa). Para já, as obras podem ser vistas no âmbito da exposição "Joan
Miró: Materialidade e Metamorfose", inaugurada há dias numa cerimónia que
contou com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o
Primeiro-ministro, António Costa, e o presidente do Governo espanhol, Mariano
Rajoy. O projeto foi elaborado por Álvaro Siza Vieira.
É um final feliz para uma história que esteve para correr
mal. Recordo que os quadros, que pertenceram ao falido BPN e que reverteram a
favor do Estado aquando da nacionalização do banco, estiverem prestes a ser
vendidos. O anterior governo permitiu mesmo que fossem enviados para Londres,
onde a sociedade Christie’s chegou a ter um leilão marcado. Foi uma queixa
apresentada à Procuradoria-Geral da República por um grupo de deputados do Partido
Socialista, reclamando ilegalidades na saída das obras, que obrigou ao cancelamento
do leilão. O Tribunal Administrativo de Lisboa considerou que tinha havido ilicitudes
na ida das 85 obras de arte para Londres e a Chrsitie’s desinteressou-se do
negócio.
Este caso ilustra bem a forma diferente como o governo de
Passos Coelho e o de António Costa olham para a Cultura e para o País. Enquanto
Passos Coelho permitia a saída e a alienação dos quadros com toda a facilidade,
quase de mão beijada, António Costa e o seu governo empenharam-se em que esse
património continuasse em Portugal. Se para o primeiro era imperativo vender,
para António Costa o que é imperativo é não delapidar o erário público e manter
em Portugal uma coleção que abrange sete décadas de trabalhos do pintor.
A história acaba bem porque foram salvaguardadas duas
premissas que considero fundamentais: os quadros ficam em Portugal, por um
lado, e, por outro, ficam acessíveis a quem os queira admirar. Foram estas,
aliás, as preocupações desde sempre expressas pelo atual Governo que impediu
que o património fosse alienado ao desbarato a interesses estrangeiros. A
Cultura não se vende. Promove-se e, com ela, enriquece-se a população.
(Artigo publicado no Jornal "O Matosinhense", 06.out.2016)
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