06 outubro 2016

5 de outubro e António Guterres



Celebrou-se ontem o aniversário da Implantação da República e a data dificilmente poderia ter sido melhor festejada. A efeméride voltou a ser comemorada com a dignidade merecida, após quatro anos de interregno, provocados pela política cega do anterior executivo do PSD e do CDS que fizeram tábua rasa da história de Portugal e aboliram o feriado que marcava uma das datas mais importantes do nosso país. Ao mesmo tempo, António Guterres ganhava a corrida para Secretário-geral das Nações Unidas.

Em Lisboa, as comemorações oficiais voltaram à Praça do Município, onde há 106 anos José Relvas fez a proclamação da República. Este ano, foi um presidente incomparavelmente menos crispado e mais próximo das pessoas quem presidiu às cerimónias. Marcelo Rebelo de Sousa fez o elogio do regime republicano, alicerce da democracia, e manifestou confiança de que Portugal continuará a vencer os desafios que ainda tem pela frente. No seu discurso, o Presidente da República apelou à classe política para um esforço continuado no estender de pontes com a população. E pediu a quem exerce o poder para dar exemplo de " humildade, de proximidade, de frugalidade, de independência, de serviço pelos outros, de todos os outros, mas com natural atenção aos mais pobres, carenciados, excluídos".

Revejo-me por inteiro nas palavras do Presidente da República, e estou à vontade para o dizer até pelas diferenças políticas que nos separam. Mas sejamos justos: Marcelo Rebelo de Sousa tem exercido um mandato muito próximo das pessoas, criando empatia com uma franja importante da população. Aliás, uma decisão do Presidente que quero aqui saudar é a condecoração que atribuiu a algumas personalidades da vida pública portuguesa, entre as quais Manuel Alegre (agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique), a quem também deixo aqui um abraço fraterno de amizade e de felicitações.

No Dia da Implantação da República (que eu passei justamente a praticar a política de proximidade preconizada por Rebelo de Sousa, participando numa assembleia de militantes socialistas em S. Mamede de Infesta, minha terra natal) a notícia do dia foi contudo a grande vitória de António Guterres, mais uma, na sua caminhada para Secretário-Geral das Nações Unidas.

Depois de alguma polémica, motivada pela entrada a destempo de uma candidata que poderia vir a alterar as regras do jogo, António Guterres recolheu, ainda assim, a unanimidade dos membros do Conselho de Segurança que vão propor o seu nome como futuro Secretário-Geral da organização. Resta agora um pequeno pró-forma, uma mera formalidade: na próxima semana a Assembleia Geral deverá aprovar a resolução, mandatando Guterres por cinco anos. O ex-primeiro-ministro português entrará em funções no dia 1 de janeiro, substituindo Ban Ki-Moon.

A eleição de António Guterres para Secretário-geral da Organização das Nações Unidas é uma enorme vitória pessoal e da diplomacia portuguesa. É a primeira vez que o cargo será desempenhado por um português, que conta com um currículo notável e é unanimemente elogiado pela sua dimensão humanista.

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