01 outubro 2016

Quadros de Miró ficam em Serralves



O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro, António Costa, na terça-feira e confirmado ontem por Rui Moreira: os quadros de Joan Miró, esses mesmo que pertenceram ao falido BPN e que o anterior governo de Passos Coelho queria permitir que fossem vendidos ao estrangeiro, vão afinal ficar definitivamente em Portugal – no Porto e na Fundação Serralves. É um final feliz para uma longa polémica, com as obras do famoso pintor catalão a ficarem disponíveis para que a sociedade usufrua delas. Ontem, o presidente da câmara do Porto adiantou que o arquiteto Álvaro Siza Vieira terá a seu cargo a adaptação de Serralves para acolher definitivamente a coleção, que cobre sete décadas do pintor. O modelo institucional e financeiro para garantir a maximização do projeto será apresentado dentro de dias.

Claramente, esta é uma história que acaba bem, ficando salvaguardadas duas premissas que considero fundamentais: os quadros ficam em Portugal, por um lado, e ficam acessíveis a quem os queira admirar, por outro. Foram estas, aliás, as preocupações desde sempre expressas pelo atual Governo que se empenhou para que o património não fosse alienado ao desbarato a interesses estrangeiros.

As peças de arte chegaram a ser enviadas para Londres, mas a leiloeira Christie’s cancelou os leilões no início de 2014, em pleno governo de Passos Coelho e Paulo Portas. A decisão da empresa foi tomada depois de um grupo de deputados do Partido Socialista apresentar queixa à Procuradoria-Geral da República, reclamando ilegalidades na saída das obras do pintor catalão. A leiloeira britânica respeitou a argumentação do Tribunal Administrativo de Lisboa que considerou ter havido ilicitudes na ida das 85 obras de arte para Londres, onde o leilão se iria realizar.

Este caso dos quadros de Miró ilustra na perfeição a forma oposta como o governo de Passos Coelho e o de António Costa olham para a Cultura e para o País. Enquanto Passos Coelho permitia a saída dos quadros com toda a facilidade, quase de mão beijada, porque o que lhe interessava era realizar dinheiro não importa a que custo, António Costa e o seu governo empenharam-se em que esse património continuasse em Portugal.

Ao ficar definitivamente exposta na Fundação Serralves, a coleção Miró vai constituir um importante polo de atração quer para portugueses quer para estrangeiros. O Porto, que o site de viagens norte-americano TripAdvisor considerou o terceiro melhor destino emergente do mundo (e o primeiro da Europa), ganha um novo motor de crescimento para a cidade e para toda a região. Um final feliz.

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