Os problemas das migrações e dos refugiados estiveram no
centro do discurso que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,
proferiu esta noite perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova
Iorque. A questão é atual, tem repercussões em todo o Mundo, sobretudo na
Europa, e exige a mobilização generalizada de recursos para fazer face à maior
vaga de migração de que há memória e que atinge particularmente crianças e
jovens.
Segundo um relatório da UNICEF divulgado na semana passada, o
número de crianças refugiadas duplicou na última década. A organização conta
mais de oito milhões de menores refugiados em todo o mundo e 17 milhões de crianças
foram obrigadas a abandonar as suas casas embora tenham permanecido no seu
país. Ao todo, a violência e a pobreza atingem 28 milhões de crianças, que
foram obrigadas a deixar os seus lares e a procurar outras paragens.
Nos últimos cinco anos, com a guerra civil na Síria, a
situação agravou-se registando-se um aumento de 77 por cento de crianças
refugiadas. Aliás, a Síria e o Afeganistão são a origem de 45 por cento da
população de crianças refugiadas. Um milhão de menores requereu o asilo, mas o
estatuto não foi ainda determinado.
Metade do total de refugiados são crianças – que, no
entanto, compõem apenas um terço da população mundial. Muitas viajam sem a
companhia de adultos e são deixadas por sua conta e risco, ficando muito
vulneráveis a fenómenos como a exploração laboral e sexual. A esmagadora
maioria não tem acesso a cuidados de saúde nem a educação escolar.
Apesar de todo o otimismo, o panorama pode ainda tornar-se
pior: o cessar-fogo na Síria, que entrou em vigor no passado dia 12, durou
apenas sete dias. Ontem, um comboio de ajuda humanitária, organizado pela ONU e
pelo Crescente Vermelho, foi atingido por um bombardeamento provocando mais de
trinta vítimas mortais. O comboio levava mantimentos para 78 mil pessoas que se
encontram isoladas. Hoje, as Nações Unidas anunciaram a suspensão de todas as
operações humanitárias na Síria. Cada vez mais, as pessoas ficam abandonadas à
sua sorte. Ou à falta dela.
É neste contexto que a Europa e o Mundo têm de encontrar
respostas. No mês passado, um grupo de ONG exigiram que as Nações Unidas consagre
o direito de cada refugiado "a uma solução para o seu problema e possa
sentir-se em segurança, bem-vindo e em casa", com acesso "aos mesmos
direitos humanos" que todos os outros. Mas, paralelamente, em países em
que existem fortes correntes de extrema-direita, o acolhimento de refugiados é
mal visto…
Neste particular, Portugal tem tido um comportamento
exemplar. Aliás, no seu discurso nas Nações Unidas, Marcelo de Sousa elogiou a
política portuguesa de integração de migrantes e refugiados. O trabalho do
ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, no seio da Plataforma Global de
Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios bem poderia servir de
inspiração a outros países da Europa…
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