Celebra-se hoje o Dia Internacional pela Eliminação da
Violência Contra as Mulheres. Em média, uma em cada três mulheres é vítima de
violência doméstica. A data comemora-se desde 1999, altura em que as Nações
Unidas decidiram adotar o dia 25 de novembro para alertar a sociedade para a
violência de que as mulheres são vítimas, nomeadamente o abuso e o assédio
sexual e os maus tratos físicos e psicológicos. Em Portugal, 85 por cento das
vítimas de violência doméstica são mulheres, revelam dados da Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Nos últimos doze anos foram assassinadas
450 mulheres no nosso país.
As comemorações deste ano, organizadas pela APAV, tiveram como
ponto alto a realização das I Jornadas Contra a Violência Doméstica, na Escola
de Direito da Universidade do Minho, em Braga. Durante os trabalhos, foram apresentadas várias perspetivas e olhares sobre a violência doméstica, a cargo
de profissionais que apoiam diretamente as vítimas, de académicos que estudam a
questão e, também, das próprias vítimas. Paralelamente, em Lisboa, a APAV
promoveu uma ação de sensibilização, que teve lugar na Rua Augusta.
Segundo a APAV, “o fenómeno da violência doméstica contra as
mulheres abrange vítimas de todas as condições e estratos sociais e económicos”.
Da mesma forma, os agressores também são oriundos de diferentes condições e
estratos sociais e económicos.
Além dos 450 assassinatos nos últimos doze anos, houve
também 526 outras mulheres que foram vítimas de tentativas de homicídio. Segundo
os dados do Observatório das Mulheres Assassinadas, da União de Mulheres
Alternativa e Resposta, a maioria tinha mais de 50 anos. A maioria dos crimes
foram praticados por homens com quem as vítimas tinham relações. O Ministério
da Justiça anunciou que entre janeiro e setembro deste ano os tribunais
aplicaram 423 medidas de proibição de contacto entre agressor e vítima,
fiscalizadas por vigilância eletrónica. Em setembro, existiam 505 indivíduos
monitorizados. Desde o início do ano, a PSP e a GNR efetuaram cerca de 50 mil
avaliações e reavaliações de risco de vítimas de violência doméstica.
Não chega – porque os crimes continuam. Os crimes passionais
entre cônjuges representam cerca de um terço dos homicídios cometidos em
Portugal e a proporção tem estado a aumentar. O número total de homicídios
diminuiu bastante na última década mas os crimes passionais mantêm-se muito
elevados. E, em todos os casos, as vítimas são mulheres.
Nos últimos anos, têm sido numerosas as campanhas de
sensibilização para a violência contra as mulheres. De todas, a mais importante
é aquela que é dirigida aos jovens. Apesar das vítimas mortais serem
maioritariamente mulheres de meia-idade, a violência doméstica começa muitas
vezes durante o namoro. Ainda não é um dado adquirido que o maior número de
casos reportados às autoridades seja resultado do aumento da violência ou se é
efeito da tomada de consciência de que a violência é um crime e que, como tal,
deve ser denunciado. No Porto, a Associação Democrática de Defesa dos
Interesses e da Igualdade das Mulheres (ADDIM) começou, no ano passado, um
projeto de prevenção de bullying e da
violência no namoro que abrange cerca de 800 estudantes do pré-escolar até ao
secundário. Ao fim de um ano, disse a presidente, da ADDIM, Carla Mansilha
Branco, “foi possível verificar alterações relativamente às crenças sobre bullying e violência no namoro".
É gradualmente que as coisas podem mudar, mesmo se a vontade
é que mudem depressa. Para que isso aconteça é preciso tomar consciência de que
combater a violência contra as mulheres é um dever de todos.
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