À medida que os ponteiros do relógio iam avançando na noite,
a apreensão ia crescendo. Os resultados vinham a conta-gotas, mas os estados
iam caindo para o lado de Trump – os que já se sabiam que iriam cair, aqueles
que se receava que pudessem cair e até aqueles que não se imaginava. A noite
eleitoral foi longa, o suspense durou até tarde, mas o resultado foi-se
desenhando num mapa que gradualmente foi ficando pintado de vermelho, a cor do
Partido Republicano.
O povo norte-americano exprimiu-se e aquilo que muitos
consideraram um absurdo foi votado como o futuro presidente do país mais
importante do mundo. Como se chegou até aqui? Como é possível ter sido eleito
um candidato com um discurso oco do ponto de vista ideológico, incapaz de
alinhavar duas frases coerentes, quanto mais uma ideia de futuro? Como foi
possível eleger alguém que fez da campanha eleitoral um exercício de baixeza em
que as declarações e racistas, anti-imigração e sexistas, por exemplo, eram
pronunciadas como palavras de ordem?
Parecia impossível. Mas, como AQUI escrevi, os Estados Unidos são um país onde até o impossível por
vezes acontece. Hoje, os norte-americanos acordaram atordoados. O “New York
Times”, um dos principais jornais de referência em todo o mundo, no seu
Editorial desta manhã, não poupa palavras e considera a eleição de Donald Trump
uma tragédia e um triunfo do nativismo, do autoritarismo, da misoginia e do racismo.
E o jornal acrescenta que “a vitória chocante de Trump é um acontecimento
repugnante na história dos Estados Unidos”.
Espera-nos (aos norte-americanos e ao resto do mundo sobre o
qual os Estados Unidos têm algum poder) um mandato presidencial em que algumas conquistas
sociais alcançadas nos últimos anos serão postas em questão. A política de
inclusão preconizada por Barak Obama, para as mulheres e para todos os grupos
minoritários, por exemplo, será certamente travada. As minorias étnicas serão
contestadas e perseguidas. O programa de saúde implementado por Obama, o
Obamacare, está ameaçado. A nível de economia, os mercados já reagiram e a
bolsa está a afundar em todo o mundo.
Em 2008, Barak Obama fez uma campanha pela positiva, gerando
uma dinâmica de confiança. O seu “Sim, nós podemos”, significava que sim, somos
capazes. Somos capazes de criar um mundo melhor, uma sociedade mais justa em
que as desigualdades sociais desapareçam progressivamente, em que a justiça
social não é um conceito vão, em que o meio-ambiente é respeitado como legado
para as gerações vindouras. Hoje e nos próximos tempos, com a vitória de Donald
Trump, tudo isto pode ser hipotecado. Não auguro nada de bom.
I am shocked and sad... and don't quite understand this turnout... even though I've been living in the US for the past 14 years, and traveled quite a lot through the country, I never fully learned what America is made of and the real disconnect between many places and their representation in Washington. I truly hope that the horrible Trump's campaign remarks will ease off and their primary goal is to represent what makes this DIVERSE country so GREAT!
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