09 novembro 2016

Trump ganhou – e agora?


À medida que os ponteiros do relógio iam avançando na noite, a apreensão ia crescendo. Os resultados vinham a conta-gotas, mas os estados iam caindo para o lado de Trump – os que já se sabiam que iriam cair, aqueles que se receava que pudessem cair e até aqueles que não se imaginava. A noite eleitoral foi longa, o suspense durou até tarde, mas o resultado foi-se desenhando num mapa que gradualmente foi ficando pintado de vermelho, a cor do Partido Republicano.

O povo norte-americano exprimiu-se e aquilo que muitos consideraram um absurdo foi votado como o futuro presidente do país mais importante do mundo. Como se chegou até aqui? Como é possível ter sido eleito um candidato com um discurso oco do ponto de vista ideológico, incapaz de alinhavar duas frases coerentes, quanto mais uma ideia de futuro? Como foi possível eleger alguém que fez da campanha eleitoral um exercício de baixeza em que as declarações e racistas, anti-imigração e sexistas, por exemplo, eram pronunciadas como palavras de ordem?

Parecia impossível. Mas, como AQUI escrevi, os Estados Unidos são um país onde até o impossível por vezes acontece. Hoje, os norte-americanos acordaram atordoados. O “New York Times”, um dos principais jornais de referência em todo o mundo, no seu Editorial desta manhã, não poupa palavras e considera a eleição de Donald Trump uma tragédia e um triunfo do nativismo, do autoritarismo, da misoginia e do racismo. E o jornal acrescenta que “a vitória chocante de Trump é um acontecimento repugnante na história dos Estados Unidos”.

Espera-nos (aos norte-americanos e ao resto do mundo sobre o qual os Estados Unidos têm algum poder) um mandato presidencial em que algumas conquistas sociais alcançadas nos últimos anos serão postas em questão. A política de inclusão preconizada por Barak Obama, para as mulheres e para todos os grupos minoritários, por exemplo, será certamente travada. As minorias étnicas serão contestadas e perseguidas. O programa de saúde implementado por Obama, o Obamacare, está ameaçado. A nível de economia, os mercados já reagiram e a bolsa está a afundar em todo o mundo.

Em 2008, Barak Obama fez uma campanha pela positiva, gerando uma dinâmica de confiança. O seu “Sim, nós podemos”, significava que sim, somos capazes. Somos capazes de criar um mundo melhor, uma sociedade mais justa em que as desigualdades sociais desapareçam progressivamente, em que a justiça social não é um conceito vão, em que o meio-ambiente é respeitado como legado para as gerações vindouras. Hoje e nos próximos tempos, com a vitória de Donald Trump, tudo isto pode ser hipotecado. Não auguro nada de bom.

1 comentário:

  1. I am shocked and sad... and don't quite understand this turnout... even though I've been living in the US for the past 14 years, and traveled quite a lot through the country, I never fully learned what America is made of and the real disconnect between many places and their representation in Washington. I truly hope that the horrible Trump's campaign remarks will ease off and their primary goal is to represent what makes this DIVERSE country so GREAT!

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